Por Thalia de Sousa Pereira
O termo Biomimética está fazendo parte de uma ciência que está conquistando cada vez mais a população mundial, pois ela faz parte de uma reflexão mais integrada e sistêmica com a natureza, cujos princípios promovem mudanças benéficas no nosso modo de produção, fabricação e administração em comunhão com a sustentabilidade. Esse método visa utilizar a natureza como modelo, medida e mentora. É importante ressaltar que esse método não requer apenas imitar o modelo da natureza, mas também trazer para nossa realidade suas formas e estruturas.
O presente projeto social foi realizado para cidade de Maringá por ser uma região que vem se destacando no cenário cultural desde 1936 e na área da dança com a abertura da primeira Escola de Ballet na cidade, em 1966. A partir de então o número de escolas particulares, públicas, ongs, exibições públicas e festivais cresceram, bem como o incentivo público a concursos na área, estimulando o trabalho de coreógrafos, bailarinos, figurinistas, técnicos, operadores e professores responsáveis.
Essa realidade além do contato da arquiteta Thalia Sousa no estudo e ensino da dança pela Associação Passantes e Pensantes, dirigido pela célebre Cláudia Nani foi o estímulo mais que necessário para o desenvolvimento dessa proposta que tem o intuito de contribuir com a prática e o ensino da dança no município de Maringá com espaços adequados ao desenvolvimento de habilidades e conhecimentos necessários para criar, modelar e estruturar movimentos em expressividade.
Outro objetivo foi também despertar maior interesse por essa área mesclando o desenvolvimento histórico cultural da cidade com uma plasticidade que ensina não só a relevância dessa prática, mas também como ela se sucedeu desde os primórdios da humanidade que assim como a Biomimética se deu através da imitação da natureza nos permitindo a evolução em diversos aspectos, casando também com a configuração e preceito de cidade-jardim que Maringá possui.
Como o projeto requer acatar as exigências das análises históricas espaciais e os princípios Biomiméticos para proporcionar funcionalidade aos ambientes como um todo, além de ofertar um espaço para dinamizar a pluralidade do movimento e de culturas presentes em todo Brasil, foi utilizado como conceito a composição do movimento alcançado com o corpo humano pela regra geométrica inerente a todo ser natural, a proporção áurea, tendo como base e inspiração a Cinesfera, teorizado por Rudolf Laban (1879 – 1958 ) que levou em consideração não só o movimento artístico, mas também cotidiano com seus aspectos psíquicos e fisiológicos. Conforme Laban (1990), o espaço é lugar para aprender o movimento e várias formas de imprimir combinações, logo, definiu a Cinesfera como a esfera do movimento, ampliando o corpo, espaço de interação, integração e investigação com o meio.
Tendo como base o referido conceito, adota-se como partido para a elaboração de um Centro Educacional em Dança formas orgânicas que apresenta o crescimento aproximado da proporção áurea e assim como a natureza gera impacto visual com espaços imprevisíveis através da implementação do uso da água, larga vegetação, salas amplas, iluminadas e ventiladas.
A proposta tem como área total edificada 14.101,90 m² e área total permeável de 6.755,11 m². O protagonismo do projeto faz parte da valorização da natureza e a integração de diferentes culturas cuja setorização dos ambientes e fluxos foram implementados com traços orgânicos para agregar na sensação de movimento. O projeto consta com duas guaritas, uma que dá acesso à fachada principal a fim de receber os usuários e a outra que dá acesso ao estacionamento com 82 vagas destinadas aos que trabalham no espaço e a eventos.
A pista é constituída de cimento e vagas recebem piso de paver intertravado impermeável, a vegetação predominante é de Palmeiras para garantir a visibilidade e exercer a função de guiar caminhos. No fundo do estacionamento há uma área para descanso ao ar livre denominada como espaço para o ócio, tendo visibilidade direta a uma cascata com pedras naturais que deságua no espelho d’água.
Ainda no fundo do terreno há reservatório de águas pluviais que coletam e tratam a água da chuva, são conduzidas por com encanamentos em baixo do solo aos espelhos d’água. Esses espelhos além do valor estético exercem a função de gerar microclima e são ainda utilizados como reservatórios para incêndio.
A praça central fornece entrada a edificação e ao Teatro denominado “Olho d’água”. Esse atua como um nicho no chão e sua entrada é destacada por uma passarela com perfis de vidro e aço galvanizado ao passo que abaixo deste corre água que deságua no palco, por baixo do solo. Em busca de maior versatilidade com o Teatro, pensou-se num projeto de palco inexistente em Maringá uma vez que os da cidade já são na maioria palcos formais e fechados. As apresentações aqui realizadas podem ser de dança, dança aquática, teatrais ou de música. O Palco “Olho d’água”recebe esse nome pois as palavras estão associadas a uma nascente de água no solo. Nele contém 100m² de área e abaixo deste há uma piscina. As chapas são divididas em três partes e podem ser descidas uma de cada vez com contrapeso para não serem destruídas pela vazão da água, dessa forma a água irá subir e a piscina ficará visível para apresentações livre de nado sincronizado. A plateia terá cadeiras impermeáveis fixas na arquibancada e poderão ser utilizadas durante qualquer horário do dia, porém o palco poderá ser barrado por portas de correr embutidas na parede.
A intenção da praça bem como do palco foi de ter a integração deste com toda edificação, portanto a cobertura consiste em uma estrutura metálica (elemento de destaque na edificação) de aço inoxidável pelo seu alto teor de resistência a corrosão e em vidro policarbonato coberta por película de metil pentano incumbido de prevenir o efeito estufa que o vidro pode propagar.
Há ainda um café no térreo que poderá atender quando houver eventos e shows na praça, bem como um deck de madeira acima do nível do chão com amplos espaços de forma circular destinado ao descanso e contemplação. Acima dele há salas de multiuso destinadas a atividades para a comunidade maringaense, onde poderá ter workshops ministrados por alunos ou professores. No entorno deste, há áreas permeáveis com forte presença de vegetação aromática em variados portes, com coloração e florações distintas cujo objetivo é de contribuir com o resgate da diversidade identitária tanto das espécies no Brasil entre a fauna e a flora, quanto de culturas existentes. Cabe ressaltar que qualquer pessoa tem acesso direto à área de descanso, para que pessoas que trabalham nas proximidades possam desfrutar e relaxar durante seus intervalos e ou saída do serviço, bem como os demais usuários do próprio espaço.
Com este estudo projetual para um Instituto de Dança na cidade de Maringá tornou-se possível ter conhecimento abrangente das necessidades dos praticantes da dança possibilitando a contribuição com um complexo único para a cidade. Apesar do foco em destinar espaços eficientes à prática da dança. Cabe ressaltar que no projeto a arquitetura buscou fazer jus a palavra integração, no formato, nos percursos e nos contatos, uma vez que, com o estudo da biomimética pode-se perceber o quanto a natureza tem a nos ensinar e como podemos evoluir com design inspirado nela.
Toda integração do projeto não só com a natureza, mas também com os usuários do espaço não veio somente como estética, mas também como estratégia de diminuição das ilhas de calor, segurança no local, cordialidade entre os usuários e principalmente contribuir com o valor artístico e cultural, por gerar um espaço capaz de conduzir a pluralidade do conhecimento agregando também respeito a diferentes povos que configuram nosso país.
Em suma, nós da Fysis Arquitetura esperamos que este estudo possa inspirar a procura de espaços que se preocupem em atender as necessidade como um todo, com nossas espécies, nossas culturas, nosso clima e principalmente a vida.
Caso queira conferir a pesquisa e as pranchas de projeto, acesse os links abaixo:
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