Por Thalia de Sousa Pereira
Com a pandemia da COVID-19 a necessidade de alternativas para convivência e a crise econômica que se instaura é evidente, estamos presenciando o fato de que milhares de famílias estão desabrigadas por diversos motivos, entre elas, a crise econômica, o desemprego, a renda, conflitos familiares, saúde, migração, saída do sistema penitenciário e o uso abusivo de álcool e drogas. Sabe-se que esses motivos já existiam, o que é triste, e só na capital paulista, no ano de 2020, 6.373 famílias foram expulsas de suas casas, o que totalizou 24.344 mil moradores de rua, tendo que lutar contra o vírus e o desemprego, isso sem contar todo o Brasil. De acordo com o levantamento de informações do Observatório das Remoções de Defensorias Públicas entre o dia 1º de Março e 31 de Agosto, no Paraná houve pelo menos 142 famílias despejadas e 742 estavam ameaçadas de despejo. O Brasil ainda expõe fatos como a desigualdade social, falta de saneamento básico e de equipamentos sanitários adequados que também contribuem com a disseminação de doenças, incluindo a COVID-19.
Em situações como essas os profissionais de Arquitetura e Urbanismo devem estar habilitados para apresentar propostas que visam proporcionar a mitigação destas questões que afetam grande parte da sociedade.
Diante dessa realidade, desenvolvemos um anteprojeto como alternativa de habitação social e coletiva com economia criativa para o Rio Grande do Sul que também tentamos encaminhá-lo para participação do Concurso Público de Ideias “Casa Saudável – Cidade Saudável”, realizado pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU/RS).
O projeto Fuchsia, desenvolvido para o Rio Grande do Sul, demonstra uma alternativa de habitação coletiva com economia criativa através do cultivo e venda de plantas nativas secas para que os moradores e consumidores preparem chás no Estado do Rio Grande do Sul, já que é uma das bebidas mais consumidas pelo Brasil e principalmente pelos gaúchos.
Através da concepção realizamos um resgate histórico dos povos que caracterizam o estado atendendo as responsabilidades de sustentabilidade utilizando os métodos de concepção da Biomimética cujos princípios são a utilização da natureza como modelo, medida e mentora. Aplicamos também o método de design da paisagem, a Permacultura e a utilização de materiais BioConstrutivos que são aqueles disponíveis na área circundante.
É relevante enfatizar que apesar dos consumidores de chás serem 54% mulheres, ele não é significativamente maior, pois além de ser consumido por ambos os gêneros também alcança todas as classes sociais.
Contudo, o objetivo foi desenvolver um anteprojeto que possa constituir uma cooperativa familiar com seis famílias carentes, capaz de diminuir o custo efetivo com a obra, promover renda e estética diferenciada, proporcionar segurança e saúde mental pela integração e trocas de experiências independente da idade, reduzir a locomoção automobilística direcionada ao trabalho, já que as famílias trabalham no local em que moram, o que agrega diretamente na redução de proliferação de dióxido de carbono na atmosfera. Por fim, a presente habitação busca revelar novo conceito espacial e técnico para que sirvam de exemplo em outras regiões brasileiras exaltando as nossas ricas e diversificadas espécies de fauna e flora.
Com a finalidade de exaltar a cultura do Rio Grande do Sul, tomamos como inspiração a sua flor símbolo decretada em 16 de Abril de 1998, popularmente conhecida como Brinco-de-princesa (Fuchsia Hibrida). Seu potencial está na facilidade de cultivo, na potencialidade comercial, na beleza e na atração de beija-flores. Sua simbologia é dada aos brincos que as mulheres gaúchas utilizavam, além de serem empregadas terapeuticamente em curas medicinais para o desenvolvimento da seriedade, da positividade e coragem.
As formas da flor deram partido as formas orgânicas presentes no projeto, cujo material empregado foi o COB, que é um material sustentável que podem ser trabalhados no próprio terreno em areia, argila e palha capaz de produzir paredes curvas, monolíticas e de capturar quantidades de calor suficientes para o inverno, além da execução ser de forma intuitiva, onde toda família pode ajudar). Utilizamos também o uso de madeira que é muito utilizado nessa região e o bambu. As construções e as plantações ficam acolhidas pela vegetação existente para garantir a existência da matéria orgânica local, fator este essencial para produção de plantas e não empobrecimento do solo.Desenvolvemos também nesse projeto estudos bioclimáticos em união com os materiais e as formas da edificação que os ambientes tenham melhor aproveitamento da luz solar e do vento predominante, essencial para purificar o ar e manter os ambientes saudáveis.
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